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Moussa uniu a vontade de conhecer o mundo e a expertise de empreendedor para abrir seu próprio negócio seis mil quilômetros longe de seu país

Seu maior prazer é ver o cliente entrar na sua loja atraído pelas luzes e pelo som, e sair de trás do balcão para atendê-lo com um sorriso no rosto e desejo de vencer pela competitividade leal

Ele tem apenas 28 anos e uma mente de quem já viveu este período multiplicado por dois. O Dia 1º de Maio, feriado, é dedicado mundialmente aos trabalhadores. Nada mais justo que ilustrar esta data com a ousadia e o sangue que corre na veia apropriado para os negócios, do africano Moussa Dia, natural de Dakar, capital e maior cidade do Senegal. O jovem está no Brasil há cinco anos, passou pelas cidades de São Paulo, Santos (SP) e Passo Fundo (RS), nesta última trabalhou como soldador por um ano. Há três anos Moussa desembarcou em Lages. Para entrar no país é concedido o visto e para permanecer em Lages ele leva na carteira a Cédula de Identidade de Estrangeiro, documento renovável a cada década.

O imigrante, que fala oito idiomas, já morou um tempo em países de primeiro mundo – França, Espanha e Itália, onde moram alguns de seus irmãos, e em Portugal esteve de passagem em visita a um outro irmão. O empresário ancorou sua vida em Lages, onde há um ano resolveu montar uma loja de variedades de tendência na moda jovem e em acessórios. Sabe aqueles tênis coloridos, brilhantes, com plataforma, e sandálias slide, que a maioria das meninas quer? E aquelas caixinhas de som coloridas e potentes que aos garotos não dispensam? Eletrônicos, relógios, bijuterias, camisetas, moletons? Tudo ele tem. O estabelecimento comercial chamado Darou Miname (cidade africana), no centro de Lages, oferece aos clientes uma diversidade que é febre na atualidade entre a garotada. Os produtos das prateleiras e araras têm procedência de São Paulo, Minas Gerais, China, Japão e Espanha.

O empresário é totalmente legalizado, tem Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) e se formalizou através da Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Turismo como Microempreendedor Individual (ME), usufruindo de todos os benefícios garantidos por lei federal e municipal, a exemplo de isenções de taxas e alvarás, além de contar com o atendimento da Sala do Empreendedor. Contribui para a arrecadação de impostos e assegura sua aposentadoria com o pagamento do INSS.

Formal e regularizado, pode emitir nota fiscal, fazer transações fidedignas com fornecedores, solicitar empréstimos e financiamentos, conquistar clientes por possuir máquina operadora de cartão de crédito e débito, investir em mercadorias e na organização da loja. Além de pagar as despesas de aluguel do ponto no valor de R$ 1.800 mensais, água, energia elétrica e Internet.

Com as vantagens e por estar dentro da legalidade, Moussa pode ter uma funcionária, a Natália, colaboradora registrada em carteira e com salário e encargos em dia. Seu amigo Ítalo dá uma mão e ajuda nas vendas. “As leis brasileiras ajudam o empresário, gero emprego e renda neste país que me recebeu tão bem”, resume Moussa.

Plano de expandir e abrir filiais

Moussa rasga seda e tece elogios a Lages, a cidade que lhe acolheu, a qual está incluída em seus projetos pessoais e profissionais. O objetivo é inaugurar uma loja em ponto locado estrategicamente próximo ao Terminal Urbano. “Vou mudar um pouco o foco, vender roupas para mulheres e outros produtos que chamam a atenção do público feminino. Leva um tempo porque têm as questões de ponto, fechar negócio, fazer contrato e tal, mas quero fazer, sim. Neste Dia do Trabalho deixo meu recado para aqueles que querem mudar de foco, mas não têm coragem ou um empurrãozinho: Eu tenho coragem de trabalhar e não podemos baixar a cabeça. Já tive momentos piores. Estou em boa fase.”

Por que Lages?

A decisão por Lages é devido ao fato de ele ter amigos na Argentina, porém, o país não possui Embaixada e nem Consulado do Senegal, o que dificulta a permanência de estrangeiros. E depois de um trabalho como vendedor de lanches dentro do Parque de Exposições Conta Dinheiro durante a Festa Nacional do Pinhão, a luz de alerta acendeu e ele pôde perceber que Lages seria um lugar rentável e bom de viver. “Tenho um parente em Vacaria e ele me convidou para vir sentir a temperatura da cidade e eu gostei daqui. Após, voltei para São Paulo e mais tarde de novo a Lages no verão para ver como seria, ficava em hotéis. Gostei, e aqui fiquei.”

Ele foi esperto e escolheu bem o ramo no qual atuar e está instalado bem no coração da cidade, no movimento intenso da rua Marechal Deodoro, no Centro. “Lages é uma cidade limpa, sossegada e não tem violência. Meu país não tem guerra, não tem fome, mas eu queria viajar, conhecer lugares e pessoas, arriscar um rumo. Eu me adaptei ao português porque em qualquer país alguém fala esta língua. Não é difícil.” Portanto, a comunicação não foi obstáculo.

Grato pelas pessoas que o ajudaram a se estruturar em Lages, Moussa faz questão de mencionar o apoio do amigo José Bakri, proprietário das lojas Moda Ativa e Estilo. “Considero ele meu pai aqui no Brasil. Faz coisas por mim que só se faz por um filho.” Antes de estrear no mercado como dono, o imigrante trabalhou como vendedor ambulante pelas ruas de Lages, informalmente. “Decidi dar um giro de 180 graus na minha vida porque gosto de lidar com o público, mas é complicado trabalhar na rua. Valeu a pena abrir as portas da empresa. Tenho ido bem. Vendemos bem e quando posso, ajudo a família, além de me manter”, argumenta Moussa, ao explicar que está casado há um ano com Luciana, com quem mora em um apartamento alugado, acima da loja.

Lembranças de uma grande família

Quando a saudade da família aperta, ele pega um avião e vai para o Senegal, principalmente para ver a mãe, e a filha, Amyf Dia, de dois anos. Na tela inicial do computador da loja, a foto da pequenina, sorridente. Todos os anos ele vai para a África abraçar a família. Enquanto o dia da viagem não chega, o jeito é amenizar a saudade por telefone e pelas redes sociais. O WhatsApp é um dos aliados, encurtando a longa distância de mais de seis mil quilômetros, com mensagens de texto, fotos e chamadas de vídeo. Rever parte da família que está no Brasil é mais fácil: Uma irmã vive em São Paulo e a outra no Rio Grande do Sul. Seu pai é falecido, e no Senegal ficaram mais uma irmã e três irmãos, o clã é grande.

Sala do Empreendedor, o braço direito dos MEIs

A Sala do Empreendedor, uma das 34 ações do Programa Cidade Empreendedora, iniciativa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) em parceria com a prefeitura de Lages, é uma das principais âncoras de apoio aos MEIs, desde que o negócio ainda esteja na fase embrionária, pronto para surgir. Entre 2 de janeiro e 26 de abril de 2019 a Sala recebeu 722 solicitações de alvarás, entre aberturas e alterações por parte de empresários com estabelecimento fixo e prestadores de serviço, além de 3.100 Declarações de Movimentação Econômica de janeiro a abril, já com alvará renovado.

O movimento de público na Sala do Empreendedor é de 30 a 50 pessoas diariamente. Cada atendimento leva quase meia hora para serem prestadas as devidas orientações. Em Lages existem 6.963 MEIs (até 31 de março, pois dados da data corrente somente após terminado o mês).

Mais de 280 pessoas empregadas via Banco do Emprego

Em 2019, o Banco do Emprego já viabilizou a contratação de 283 pessoas, com 2.916 encaminhamentos para processos seletivos, com média de 80 pessoas atendidas por dia. Em 2018 foram atendidas 8.191 pessoas, e encaminhadas 5.868 para entrevistas, com admissão de 943.

Programa Qualifica Melhor Lages já formou 578 pessoas este ano

Capacitação também faz parte do dia a dia da Secretaria do Desenvolvimento Econômico. Uma ramificação com diversas opções para trabalhadores e a quem deseja ser chefe de si mesmo. Em 2019 já são 578 pessoas formadas em 31 cursos. A previsão até final deste ano é de 1.800 pessoas aperfeiçoadas pelos instrutores voluntários que são empresários e autônomos preocupados com uma mão de obra melhor preparada ao mercado. Os polos das qualificações são a Secretaria do Desenvolvimento, Diretoria de Turismo e os Centros de Atenção Integral à Criança (Caics) Nossa Senhora dos Prazeres (bairro Santa Catarina) e Irmã Dulce (Guarujá), núcleos mais próximos dos cidadãos nos bairros.

Lages tem 28% de empresas a mais em 2019

O imigrante africano Moussa Dia está no painel dos empresários satisfeitos com a performance econômica em Lages. Santa Catarina registra recorde de novos negócios no primeiro trimestre deste ano com 34,8 mil empresas constituídas na Junta Comercial de Santa Catarina (Jucesc) até o mês de março.

O crescimento de quase 30% em relação à média de 2018 é o maior dos últimos três anos. Em 2018 foram 27 mil novas empresas, no período e, 21,7 em 2017. Este ano, o saldo entre empresas constituídas e baixadas foi 22,7 mil até agora.

Três cidades catarinenses também se destacaram na média mensal para o surgimento de empresas no trimestre: Joinville, Blumenau e Lages, com 32%, 31% e 28%, respectivamente. Sobre Lages, em 2017 foram 149 novas empresas; em 2018 181, e em 2019 já são 233. Os números são do primeiro trimestre de 2019, comparativo com 2018. Lages é evidenciada também como cidade empreendedora, registrando o surgimento de novas startups e empresas.

Mais de 25 mil postos de trabalho

A economia catarinense gerou 25,3 mil novos postos de trabalho em fevereiro, o terceiro Estado que mais gerou empregos no mês, depois de ter liderado em janeiro, com a criação de 20,2 mil. O saldo do mês supera em 55,2% o de fevereiro de 2018. O número de empregos formais acumula crescimento de 2,3% neste ano quando comparado com o mesmo período de 2018.

De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), Lages abriu 160 novos postos de trabalho formal em março. O segmento que encabeça a maioria das vagas preenchidas é o da construção civil, seguida pela indústria de transformação.

Texto: Daniele Mendes de Melo/Fotos: Nathalia Lima

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