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Coronavírus: em menos de um mês, ocupação de leitos de UTI para a Covid-19 cai para menos da metade

Lages está, hoje, com 107 leitos disponíveis para enfermaria e UTI da Covid-19

Atualmente, o município de Lages está com 21 pacientes serranos internados em leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e 18 em leitos de enfermaria em decorrência do novo Coronavírus, gerador da doença Covid-19. Desta estatística, são 13 de Lages nas UTIs, e nove em enfermaria. O Boletim Epidemiológico lançado na manhã desta segunda-feira (14 de setembro), pela Secretaria da Saúde de Lages, demonstra que 108 lageanos com casos confirmados do novo Coronavírus (Covid-19) utilizaram leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) até agora, desde o começo da pandemia, em março deste ano.

O mesmo indicador, neste mesmo período do mês passado (agosto), mostra que o município de Lages tinha uma taxa de ocupação na UTI Covid-19 em 92% e 36,5% na enfermaria em 17 de agosto. E neste dia 14 de setembro Lages registra uma taxa de ocupação de leitos de UTI em 44%. Cada paciente fica em torno de dez a 12 dias em um leito de UTI.

Uma série de fatores contribuiu para esta realidade em processo gradativo de diminuição. Consequentemente, a taxa de transmissão cai, menos pessoas viram suspeitas, menos ficam doentes e menos pessoas são internadas. O número de casos ativos desceu (pela primeira vez, menos de 200 nos últimos dois meses), o de monitorados despencou (nos últimos 60 dias o contingente mantém-se abaixo de mil, também pela primeira vez), a procura pelo Centro de Triagem diminuiu, assim como a confirmação de pessoas testadas positivas.   

Uma batalha travada sem dia para terminar  

O Brasil ainda está longe de guardar suas armas de enfrentamento ao inimigo silencioso. Lages superou o pico da pandemia, em agosto Santa Catarina estava nesta situação e amargava, em 11 de agosto, o ingresso no status gravíssimo (cor vermelha), lugar de desconforto e extrema preocupação com duração por duas semanas. Contudo, diferentemente de outras regiões do Estado, o pico em Lages permaneceu de 15 a 20 dias, considerado leve. Os sinais de melhora são visíveis, conseguiu-se trabalhar a questão da gestão dos leitos hospitalares e não houve casos de pacientes da Serra Catarinense com necessidade de leito de enfermaria ou UTI em espera por eventual falta de vaga, isto não aconteceu por sequer um dia, mesmo nos dias de pico.  “A rede funcionou muito bem. Lages saiu do pico da pandemia por causa de um conjunto de motivos: na fase mais crítica da pandemia investimos muito na testagem, inclusive com testes de ponta que não são fornecidos pelos governos federal e estadual, o antígeno, para determinação rápida de internação. Este foi um ponto estratégico”, resume o secretário da Saúde de Lages, Claiton Camargo de Souza, lembrando, ainda, que assim foi possível internar os pacientes confirmados e em estado mais grave. “Quando os casos começaram a acelerar, conseguimos ter resposta satisfatória de estrutura do Centro de Triagem, incluindo tomografia e outros tipos de exame, tudo à disposição dos trabalhadores, o que faz sim diferença”.

A população também vem fazendo sua parte, apesar de ser percebido um desleixo no Dia dos Pais e no feriado prolongado da Independência do Brasil, sobre o qual não se esperam desfechos negativos após 14 dias.

Santa Catarina teve municípios que estão no pico da pandemia há cinco meses, a exemplo das regiões de Laguna e Imbituba, tanto que na semana passada regrediram ao status gravíssimo novamente. Algo parecido ocorreu com a capital Florianópolis, que ganhou fôlego nas duas últimas semanas após desde março passar por apuros. Foi o primeiro município do Estado a sofrer um caos e faltaram leitos já no início de abril.

A cobertura pelos leitos

No município de Lages, em um panorama geral, houve 39 leitos de enfermaria Covid-19 disponíveis na maior parte da pandemia do novo Coronavírus no Hospital Nossa Senhora dos Prazeres, e mais 20 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). No Hospital Tereza Ramos sempre estiveram disponibilizados 49 leitos de enfermaria e mais 20 leitos de UTI.

Neste final de semana o Hospital Tereza Ramos liberou mais seis leitos de UTI. Portanto, passou de 20 para 26 leitos de UTI Covid-19. Contudo, o número de leitos de enfermaria foi reduzido, definição alinhada junto à estratégia da Covid-19, já que a taxa de ocupação das enfermarias caiu, há necessidade de direcionar estes leitos para outras especialidades (enfermaria clínica), as quais dependem de plantonista para se determinar a internação, e geralmente atendem os pacientes que precisam de internação, com origem na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) 24 Horas Maria Gorete dos Santos.

Nos dias 12 e 13 de setembro, o Hospital Tereza Ramos trabalhou com a oferta de 30 leitos de enfermaria. E nesta segunda-feira (14 de setembro) passou para 22, justamente para liberar leitos para as outras especialidades, em que havia um déficit até então. “Mesmo com estes leitos diminuídos nos hospitais Tereza Ramos e no Nossa Senhora dos Prazeres, a taxa de ocupação se manteve na média dos 30%, 33% como foi apresentado no Boletim Epidemiológico nesta manhã. Então, reduziu-se leitos, mas não houve entrada de paciente para aumentar, já que o normal seria reduzir leitos e aumentar a taxa de ocupação, mas isto não aconteceu”, justifica o secretário da Saúde de Lages, Claiton Camargo de Souza. O Município recebeu recursos financeiros do Ministério da Saúde (MS) para financiar leitos do Tereza Ramos. São R$ 1.600 por dia, por leito de UTI. Os valores são passados desde o início da pandemia.

Quanto aos leitos no Nossa Senhora dos Prazeres havia 39 leitos de enfermaria até semana passada e baixou para 21, e na UTI Covid-19 foram mantidos 20 leitos, sendo, destes, dez cuja habilitação foi solicitada ao Ministério da Saúde, mas que ainda não saiu, e o Município então está bancando estes gastos. A municipalidade mantém o financiamento de R$ 1.600 por dia (R$ 10 mil diariamente), de cada um dos dez leitos UTI Covid-19, todavia, a conta somente será repassada ao Governo Federal quando a habilitação estiver efetivada. Este investimento está sendo destinado desde que foram lançados os dez leitos de UTI neste hospital, ou seja, início de agosto.

No Hospital Infantil Seara do Bem a taxa de ocupação foi significativamente baixa ao longo de toda a pandemia, em nenhum momento passou de 12,5%. Na UTI Covid-19 quase não houve ocupação. Cinco leitos de UTI Covid-19 estiveram disponíveis durante praticamente todo o período da pandemia, e esta mesma quantidade ainda continua aberta. Enquanto isto, a enfermaria foi fechada na semana passada, com seus oito leitos. “Durante toda a pandemia temos a parceria dos três hospitais, participação em reuniões e feedbacks”, salienta o secretário da Saúde, Claiton Camargo de Souza.

No Centro de Triagem, especialmente estruturado e equipado no local do antigo Pronto-Atendimento (P.A.) Tito Bianchini, há 13 leitos no total. Desde o mês de junho Lages recebe R$ 80 mil mensalmente, provenientes do Ministério da Saúde, para custear o Centro de Triagem para a Covid-19. No início da pandemia, os municípios da região Serrana se comprometeram a cumprir um co-financiamento do Centro de Triagem, mediante cálculo proporcionalmente a sua população, já que a estrutura presta suporte aos moradores dos 18 municípios pertencentes à área da Serra Catarinense e é referência. Em caso de necessidade internação hospitalar, a porta de entrada de assistência em saúde á o Centro de Triagem em Lages.

Todos os leitos do Centro de Triagem consistem em leitos de pronto-atendimento, compreendem leitos intermediários com a finalidade de atendimento, estabilização e logo em seguida haver o encaminhamento para internação. Existem duas salas: Vermelha e Amarela.

Para a sala Vermelha são levados os pacientes em situação extremamente grave, em que há a sua estabilização para posterior e imediata internação em leito de UTI. Na sala Amarela estão os pacientes em quadro moderado, com agravamento, mas recebem tratamento e mediação no local. Pode ter alta após melhora e estabilização ou ser internado, dependendo do caso.

As redes pública e privada de Saúde em Lages contam com mais de quatro mil profissionais no combate à Covid-19: Cerca de 700 no Hospital Tereza Ramos, 400 no Nossa Senhora dos Prazeres e mais 200 no Infantil Seara do Bem, além de 1.200 colaboradores da Secretaria Municipal da Saúde.

O lado financeiro

Não houve recebimento, por Lages, de recursos financeiros fundo a fundo do Governo do Estado, mas sim, repasse de insumos, equipamentos, respiradores e monitores. O Hospital Tereza Ramos é de gestão do Governo do Estado de Santa Catarina e o Hospital Nossa Senhora dos Prazeres é filantrópico. Por isto, o Município não financiou, com recursos da Covid-19, os leitos cuja habilitação do Ministério da Saúde não saiu, no Nossa dos Prazeres isto aconteceu, pois não há obrigação de estar com leito aberto atendendo paciente aguardando habilitação. Se o atendimento estivesse sendo feito e ao mesmo tempo na espera pela liberação/habilitação pelo Ministério da Saúde, estaria com um mês e meio de prejuízos.

Projeções

Difícil mensurar projeções de novos picos ou regressões da pandemia quando a flexibilidade envolve fatores comportamentais. “Uma coisa é quando as pessoas estão seguindo as regras de restrição no mesmo padrão em que elas vinham respeitando nos últimos quatro meses. Aí nesta realidade é possível elaborar uma expectativa. Agora, quando há o comportamento da libertação é mais complicado e de repente pode haver uma explosão de casos novamente. As pessoas estão cansadas de ficar em casa, querem sair para passear, jantar, aproveitar as temperaturas mais altas”, avalia Claiton Camargo de Souza.

Aparentemente não há indícios ainda que demonstrem aumento da taxa de contaminação por causa do feriadão de 7 de Setembro e se não houver novidades desfavoráveis ao fechar os 14 dias pós três dias do feriado, há uma alta tendência de queda da taxa de internação de enfermaria e UTI e casos confirmados.

Infelizmente, não há redução na taxa de óbitos. Já existe um perfil epidemiológico traçado: 90% dos internados graves possuíam comorbidade associada (fatores de risco) – idoso, obesidade, hipertensão, diabetes, histórico de câncer ou doença autoimune.

Lages foi um dos últimos municípios do seu porte em constatar óbitos por Coronavírus. E com a circulação e exposição quando as pessoas começaram a sair de casa, contraiu-se o vírus e foi notado o potencial de risco epidemiológico da população com estas comorbidades e mortes, tanto que na taxa de mortalidade em leitos de UTI é alta, gira em torno de 50%. Do total de ocupação, 90% estão neste perfil, por isto o risco alto de óbito.

Houve, no pico da pandemia em Lages, durante ao longo de semanas do mês passado em que se registrou 17 óbitos, uma incidência altíssima. Nesta última semana atual foram seis óbitos e, na retrasada, três.

A respeito da liberação de leitos de UTI, não é possível associá-la à ocorrência de óbitos, pois poderia ser entendido desta forma se os outros índices continuassem em ascensão. Mas em Lages está em 44% devido ao fato da redução do número de casos, de confirmação de pessoas testadas positivas, de monitorados, de internação e da procura pelo Centro de Triagem, nota-se já, um cenário de estabilidade.

Texto: Daniele Mendes de Melo

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