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População deve estar inteirada das possíveis sequelas da Covid-19 em pacientes recuperados e em pacientes que estiveram por vários dias em UTI

O Brasil alcançou a marca de 3.753.082 pessoas curadas da doença. No mundo, estima-se que pelo menos 20,5 milhões de pessoas diagnosticadas com Covid-19 já se recuperaram

Um imponente poderoso, misterioso e letal para quase um milhão de pessoas globalmente, um desafio para a ciência. O novo Coronavírus, gerador da doença Covid-19, arrastou milhões de vidas repentinamente e traz consigo algumas evidências que parecem minúsculas perante as inúmeras incógnitas que ainda o cercam. Entre os quais, as possíveis sequelas da doença em pacientes recuperados. Covid-19 deriva do inglês Coronavirus Disease 2019 constitui uma doença infecciosa causada pelo Coronavírus, da Síndrome Respiratória Aguda Grave 2 (SARS-CoV-2).

A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) produziu material jornalístico cuja uma das informações abrange o fato de que pesquisadores buscam desvendar o mecanismo de ação do novo Coronavírus, que ataca diversos órgãos além dos pulmões, e provoca alterações na circulação sanguínea, bem como pode levar à morte não somente por insuficiência pulmonar. Em países em estágios mais avançados da pandemia, a exemplo do Reino Unido, devem persistir sequelas físicas, cognitivas e psicológicas em pacientes da Covid-19, principalmente as respiratórias se seguirem os padrões de SARS e MERS (Síndrome Respiratória do Oriente Médio).

As revistas científicas New England Journal of Medicine e Brain, em publicações recentes, documentam os sintomas neurológicos em pacientes com Covid-19. Variam de simples dificuldades cognitivas à confusão mental, além de dor de cabeça, perda de olfato e formigamento, assim como encefalites, hemorragia, trombose, Acidente Vascular Cerebral (AVC) isquêmico, mudanças necróticas e Síndrome de Guillain-Barré (desordem neurológica periférica), condições neurológicas nem sempre correlacionadas com a severidade de sintomas respiratórios. Sinais de isquemia e hipoxemia, problemas neurológicos, intrigam os patologistas. Ainda não se sabe o porquê de o vírus causar tantos problemas neurológicos/psiquiátricos.

Indícios em exames mostram que os efeitos não ocorrem por ação direta do vírus, mas por mecanismos mais indiretos que fazem lesões no sistema nervoso. O vírus pode se espalhar pelo coração e rins, além dos pulmões, e chega ao cérebro por meio do nervo olfatório.

Sobre situações de pacientes recuperados da Covid-19 e que apresentaram sintomas e testaram positivo mais uma vez, infectologistas não sabem se eles se contaminaram novamente com o Sars-CoV-2 ou com outro vírus não detectado, ou se o Sars-CoV-2 ficou alojado no tecido. Não se sabe se as pessoas desenvolvem ou não imunidade a este vírus, conforme divulgado pelo material de autoria de Eliane Comli, da Unicamp (Especial Lab-19), baseada em coleta, apuração e divulgação de informações e entrevistas. “Assim como os impactos nos pulmões podem ser devastadores, as consequências podem ser maiores e prolongadas no sistema nervoso, em decorrência da difícil regeneração do tecido nervoso, refletindo em incapacidades gerais, já que o sistema nervoso coordena as funções do organismo como um todo”, relata a Unicamp. 

Risco de sequelas cresce para pacientes com internação demorada em UTI

O Sistema de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde (MS) aponta que 50% dos pacientes mais graves de Covid-19 sobrevivem. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a chance de sequelas aumenta em pacientes graves que tiveram permanência prolongada em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e necessidade de usar aparelhos respiradores. A recuperação pode levar de três a seis semanas ou mais.

São várias as complicações pós-intubação decorrentes da própria intubação (respiração artificial) prolongada seguida de traqueostomia (procedimento que facilita a chegada de ar aos pulmões quando há obstruções). Os danos laríngeos, como lesões nas cordas vocais e estreitamento da laringe, e traumas nas vias aéreas, são os mais comuns. Podem causar prejuízos à vocalização, à respiração e à deglutição.

Há necessidade de reabilitação multiprofissional e interdisciplinar dos pacientes pós-Covid-19 graves, envolvendo fisioterapeutas, fonoaudiólogos, médicos, nutricionistas e outros. Perda de paladar e olfato são sinais de algo sério em relação ao hábito alimentar e agrava-se mais por causa da disfagia (dificuldade de engolir) decorrentes da intubação prolongada e traqueostomia. Alterações da deglutição não tratadas adequadamente podem acarretar em desnutrição, desidratação, broncopneumonia e até levar à morte.

No desmame da ventilação mecânica ou devido à resposta inflamatória exagerada podem ocorrer processos embólicos. Pequenos coágulos se desprendem e são transportados pelo sangue até vários órgãos, podendo obstruir vasos e impossibilitar a oxigenação das células. As consequências podem ser embolia pulmonar, tromboses, ataques cardíacos e AVC isquêmico (o que pode gerar paralisia de movimentos e perda da fala, entre outros problemas).

Polineuropatia (distúrbio dos nervos) pode aparecer de forma expressivamente aguda, englobando fraqueza muscular e perda muscular e da motricidade. Pacientes menos graves podem manifestar desenvolvimento gradativo de sinais da polineuropatia: sensação de formigamento e dormência, dor semelhante à queimação e incapacidade de sentir vibrações ou a posição dos membros e das articulações.

Em torno de 67% dos pacientes recuperados da Covid-19 sem internação apresentam algum sintoma neurológico persistente: Fadiga crônica (30%), problemas de memória (25%), perda de olfato (20%), dores de cabeça (15%) e perda de paladar (10%). Cerca de 33% se consideram sem sintomas.

Um enigma a ser elucidado

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) lembra que a Covid-19 ainda é nova e, por isto, suas consequências são desconhecidas. As infecções graves podem deixar certo grau de fibrose pulmonar, da mesma forma que ocorre em outras pneumonias. Além disto, existem estudos sobre sequelas nos pulmões (como infecção), rins, coração (a exemplo de inflamação) e sistema nervoso central. “Tais ocorrências se dariam em parte dos pacientes que passaram pela internação em UTIs. A maior parte dos casos, entretanto, evolui para uma melhora sem sequelas”, informação reforçada pela instituição.

Um vírus avassalador e ainda pouco decifrável. O diretor técnico do Centro de Triagem para a Covid-19 em Lages, Leonardo Coelho, pondera ser a Covid-19 “uma doença muito nova e agressiva, que tem demandado numerosas e densas pesquisas e investigação”. Leonardo, que é médico especialista em psiquiatria (saúde mental), evidencia que, “ainda é cedo para definirmos com segurança quais serão as sequelas da Covid-19 a longo prazo e quais os sistemas do corpo serão afetados, porém já observamos elas presentes nos pacientes acometidos pela Covid-19, tanto físicas, quanto mentais e psicológicas”.

Mais de 3,5 milhões de curados no Brasil

O Ministério da Saúde (MS) expõe os dados atualizados do final da tarde desta quinta-feira (17 de setembro) e constata que o Brasil alcançou a marca de 3.753.082 pessoas curadas da doença. Em acompanhamento estão 567.369 pessoas.

No mundo, estima-se o cálculo de que pelo menos 20,5 milhões de pessoas diagnosticadas com Covid-19 já se recuperaram (20.568.133). Em âmbito mundial estão registrados 30.221.414 casos confirmados.

O número de pessoas curadas no Brasil é superior à quantidade de casos ativos, que são os pacientes em acompanhamento médico. “O registro de pessoas curadas já representa mais da metade do total de casos acumulados (83,1%)”, salienta o Ministério da Saúde (MS).

O total de casos confirmados no país é de 4.455.386, sendo 36.303 novos. A doença está presente em 99,5% dos municípios brasileiros. Porém, mais da metade das cidades (3.785) possuem entre dois e 100 casos. Em menos de 40 dias, o mundo registrou dez milhões de novos casos da Covid-19.

Em relação aos óbitos, 4.373 municípios tiveram registros. Ainda sobre os óbitos, o Brasil possui 134.935 mortes por coronavírus, com 829 casos novos. A taxa de letalidade é de 3,0% e a de mortalidade é de 64,2.

A média móvel de novas mortes no Brasil nos últimos sete dias foi de 779 óbitos, uma variação de -9% em relação aos dados registrados em 14 dias. A média móvel de casos foi de 31.097 por dia, uma variação de -22% em relação aos casos registrados em 14 dias.

Globalmente são 946.963 óbitos. Os três países com os maiores números de mortes são Estados Unidos (EUA), com 196 mil; Brasil, com 134 mil, e Índia, com 83 mil.

Quadro internacional

Até o dia 22 de agosto, o Brasil ocupava a segunda posição em relação ao número de casos (3.582.362) e ao registro de óbitos (117.665). Todavia, quando considerado o parâmetro populacional, por milhão de habitantes, entre os países de todo o mundo, o Brasil ocupa a 7ª posição em relação aos casos (17.047) confirmados e em relação aos óbitos (544), na 8ª posição. A medida populacional é a taxa padrão para comparações entre os países.

Texto: Daniele Mendes de Melo, com informações da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Ministério da Saúde (MS)/Fotos: Divulgação

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