Notícia no Ato

Deputado Francisco Küster é o novo entrevistado do “Nossa História”

A TV Câmara de Lages recebeu o segundo entrevistado do programa “Nossa História”. Trata-se do ex-vereador de Lages e de Florianópolis, cinco vezes deputado estadual, deputado federal e constituinte, Francisco de Assis Küster. Ele foi recebido no Legislativo Lageano pelo presidente Gerson Omar dos Santos (PSD) – que foi seu funcionário nos tempos de SDR – e pelos vereadores Jean Felipe (Progressistas) e José Osni de Oliveira – Tio Zé (Podemos). O programa deve ir ao nesta sexta-feira (16) nos canais da Câmara no Facebook e YouTube.

Casado com Hedwiges Pryciuk Küster, pai de seis filhos: Elias, Eneas, Lucilene, Zenha Regina, Liliam e Francisco Júnior. Francisco Küster é um homem de convicções e temperamento forte, que concluiu o segundo grau (atual ensino médio) já como deputado. Formado em técnico em edificações, lamenta não ter cursado Direito ao longo da vida, entretanto, orgulha-se do fato de que todos os seus filhos são graduados no ensino superior.

O menino pobre do interior de São Joaquim que se tornou líder

Em 31 de outubro de 1943, nascia no interior de São Joaquim-SC, “em uma casa que não tinha nem assoalho”, Francisco de Assis Küster. Uma vez que seu o pai, Gervásio Pereira Küster, foi contratado como carpinteiro do 1º Batalhão Ferroviário, toda a família se mudou para o interior de Lages e fixou residência junto à estação ferroviária de Invernadinha. Küster se emocionou ao lembrar que a mãe, Maria de Melo, além de todos os afazeres domésticos, ainda lavava as roupas dos soldados para ajudar nas despesas do lar.

Mais velho de 11 irmãos, Francisco não tardou a ajudar a família. Estudou até a quarta série e com 11 anos passou a trabalhar como office-boy do Batalhão. Dentro da corporação foi carpinteiro, pedreiro e gerente na Cooperativa dos Funcionários, de onde surgiu o interesse pela representação pública. Desta base obteve sua primeira eleição em 1969, como vereador de Lages, com 468 votos pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), de oposição ao governo militar. Votação que foi mais do que triplicada (1.574 votos) em 1972, quando se reelegeu ao cargo.

Ainda em meio ao segundo mandato, lançou-se candidato ao parlamento catarinense, do qual logrou êxito além das expectativas, sendo eleito com 13.305 votos e assumindo como deputado estadual em 1975. Feito repetido duas vezes consecutivas: em 1978 (com 18.746 votos) e em 1982 (com 31.753 votos). Foi presidente de comissões e líder de seu partido. Aqueles eram outros tempos, Küster relembra que quando chegou à porta da Assembleia Legislativa de Santa Catarina perguntou a um soldado se era ali mesmo que ficava a Alesc já que nunca havia estado lá antes.

“De zé ninguém a deputado constituinte”

Em 1986, Francisco Küster atingiu o ápice de sua carreira política, sendo eleito deputado federal constituinte por Santa Catarina, já pelo PMDB, com 46.032 votos. “De um zé ninguém a deputado constituinte, mas tudo tem uma história, e na missão que o Patrão Véio me deu sempre houve garra, compreensão e apoio do povo”, resume. Uma trajetória um tanto quanto diferente de parte considerável dos atuais congressistas: “Hoje temos muitos aproveitadores e mal-intencionados que, na ausência dos bons representantes, tomaram estes espaços”, lamenta.

Sobre a Assembleia Constituinte, que resultou na Constituição de 1988, se orgulha de ter trabalhado no que considera um novo ordenamento jurídico para o país, que até então era regido pelo autoritarismo do regime militar. “Ajudei a construir situações que elevaram o reconhecimento dos direitos das pessoas”, afirma. Ele cita políticos como Ulysses Guimarães e Mario Covas, os quais considera fundamentais para a redemocratização do Brasil. “Eram pessoas com um propósito, que foram para Brasília para cumprir uma missão e não para arrumar suas próprias vidas. O Velho nos deixou quatro anos sem reajustes”, conta sobre Guimarães, então líder da Constituinte.

“O nosso papel era melhorar a vida das pessoas. Nós ajudamos a criar o SUS (Sistema Único de Saúde), pois antes a pessoa morria tomando chazinho em casa porque não havia médicos. Fizemos ter na marra”, aponta Francisco Küster, no entanto, ele lamenta que a “Constituição virou uma colcha de retalhos”, de muitos direitos e poucos deveres. Se fosse hoje, admite que lutaria para que a Constituição Cidadã fosse mais enxuta. “Para dar o troco nos militares e pela redemocratização, colocamos tudo na Constituição”, admite.

Para Küster, falta caráter para os representantes dos três poderes

Uma reclamação do político serrano é sobre as atribuições dos três poderes, cujas estruturas demandam milhões de reais em mordomias, dinheiro o qual entende que deveria ser usado na infraestrutura e na saúde da nação. “Hoje vemos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) desvirtuar esse papel, eles não deveriam ser indicados por serem advogados de partidos políticos, mas sim através de concursos públicos entre os magistrados. O Congresso tem pessoas de moral desqualificada chefiando comissões de inquérito e o Executivo um presidente sem o cabedal de valores necessário para a função, ele não pode entrar em discussões de moleques. (…) É preciso uma limpeza de caráter, um banho de caráter e de ética”, afirma.

Para Küster, a reeleição no Executivo é um mal da política brasileira. “Entram já pensando em se reeleger, tanto que tudo melhora nos anos de eleição”. Para ele, o ideal seria um mandato de cinco anos para prefeitos, governadores e presidente e um máximo de três mandatos no Legislativo, por entender que a experiência ajuda na qualidade de debates no Parlamento.

Após décadas de militância, deixou o PMDB em 1988 por considerar que o partido tinha sido competente no papel de redemocratização do país, mas não possuía um projeto para o dia seguinte. Junto de outros dissidentes, fundou o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), agremiação inspirada na social democracia europeia, e foi o primeiro presidente estadual da sigla, que fornecia curso de ética aos afiliados e capacitação aos candidatos a vereador. Pelo PSDB, tentou a reeleição ao Congresso em 1990, mas por falta de legenda não alcançou o intento, ficando como 1º suplente, mas sem assumir vaga.

“Quem ama Lages tem que acompanhar a história de Lages”

Momentaneamente afastado da vida pública, retornou a Florianópolis, mas eis que em mais um acaso do destino foi flagrado trabalhando na área da construção civil, de pá e picareta na mão, por uma equipe de reportagem da revista Veja, segundo ele, “para fazer umas casinhas e obter uma renda a mais”. Tal fato novamente despertou o interesse das pessoas e dos políticos e fez surgir o convite para ser candidato a vereador, desta vez pela capital catarinense. Para sua surpresa, foi o mais votado daquele pleito, sendo líder do governo na Câmara.

Dois anos depois, lançou-se novamente como candidato a deputado estadual e pela quarta vez foi eleito, com 10.865 votos. Único representante do PSDB na Alesc, Francisco Küster conseguiu a proeza de se tornar presidente da Assembleia Legislativa em 1997, contando com o apoio, inclusive, de antigos adversários políticos, como o também deputado Ivan Ranzolin. Desta experiência, restou o arrependimento da má condução do processo de impeachment não efetivado do então governador Paulo Afonso Vieira, sobretudo em relação ao vice, José Augusto Hülse, o qual não acreditava que tivesse qualquer culpa. “Foi a única vez na minha vida que não reagi e levei muito desaforo para casa. (…) Ali começou meu desencanto com a política”, relembra.

Após este período como legislador, foi convidado a presidir às Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc) em 1999, tendo enfrentado greves sindicais no período. Em 2002, concorreu outra vez a uma vaga na Alesc, ficando na primeira suplência, com 13.033 votos recebidos, mas desta vez foi convocado a assumir vaga devido ao afastamento do deputado Dado Cherem. Abdicou da vaga em 2006 ao tomar posse da Secretaria de Articulação Política da Prefeitura de Florianópolis. Ao fim do mesmo ano, deixou o cargo e assumiu como Secretário de Desenvolvimento Regional em Lages, no governo de Luiz Henrique da Silveira. Foi nesse período que intermediou, durante a Festa do Pinhão, um encontro entre dois antigos desafetos políticos: LHS e Raimundo Colombo.

Após a vida pública, retornou ao ramo da construção civil, que lhe rendeu um bom dinheiro com a venda de umas “casinhas”, algumas das quais verdadeiros casarões na capital catarinense. Reside em Florianópolis, mas vez ou outra passa um tempo no seu sítio em Lages com a esposa Hedwiges. Na “Princesa da Serra”, também foi responsável pelo programa “Direitos Iguais”, que era transmitido nas manhãs de domingo pela Rádio Clube e onde, segundo ele, gostava de falar de “utopias, sonhos e esperanças”. O radiofônico foi mais uma vítima da pandemia, tendo se encerrado em 2020. Sobre a doença, já imunizado, Francisco Küster se diz um defensor contumaz das vacinas desde que quase morreu por conta da coqueluche, aos sete anos de idade. “Vi muita gente morrer de sarampo, febre amarela, coqueluche, doenças que hoje não são mais faladas justamente pela vacinação”, ressalta.

Por fim, ao longo de duas horas de muita prosa com o apresentador Reginaldo Heine, Francisco Küster deixou seu recado sobre o programa “Nossa História”, da TV do Poder Legislativo Lageano: “Quem ama Lages tem que acompanhar a história de Lages. Saio daqui muito feliz, valeu a pena. É um projeto muito importante, que fica para a posteridade, para futuras pesquisas de estudantes que quiserem entender como um cidadão humilde do interior de São Joaquim virou um deputado constituinte da Nação”.

Com informações do portal Memória Política de Santa Catarina.

Fotos: Daniel Wolff Athayde (Câmara de Lages)

Everton Gregório – Jornalista

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