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Madrinha afetiva resume anseio de criança acolhida: mão estendida sem pedir nada em troca

A professora Maryana Koech é jovem e tem dedicado os últimos anos da sua vida a cuidar do outro. Antes mesmo de integrar o projeto Apadrinhamento Afetivo na comarca de Lages, estudou, buscou ajuda profissional e orientação para saber como receber da melhor maneira possível os afilhados. Em quatro anos, a pedagoga criou laços e construiu memórias com experiências baseadas no amor, carinho e atenção junto aos seis afilhados.
Os primeiros questionamentos sobre as condições de vida, acesso à saúde, cultura e educação das crianças que vivem em instituições de acolhimento surgiram quando Maryana tinha apenas 15 anos. Ela foi convidada por uma amiga mais velha para ser madrinha do filho que chegaria por adoção. “Minha preocupação com tudo aquilo foi tão grande que ao perceber estava mais envolvida do que imaginava”.
Ao estudar, e na ânsia de querer saber sempre mais para entender como e por que as crianças e adolescentes vão parar em uma casa de acolhimento, a jovem se deparou com uma reportagem que falava sobre a importância do apadrinhamento afetivo na vida delas. Na época, Lages ainda não tinha o projeto. “Dali em diante, busquei saber qual o papel do padrinho e as formas de apadrinhar”.
Quando completou 21 anos, em 2017, o projeto Apadrinhamento Afetivo finalmente chegou a cidade, idealizado pelo Município com o apoio do Poder Judiciário por meio da Vara da Infância e Juventude. “Fiquei eufórica e ao mesmo tempo com muito medo. Apesar de ter lido e estudado bastante, sentia a necessidade de saber mais. Entrei no grupo de apoio à adoção, o que foi de extrema importância porque ouvi relatos reais, sem romantização, sobre a realidade dessas crianças”. Maryana também buscou uma psicóloga especialista em adoção para se preparar para lidar com todas as situações.

O amor é maior que tudo
Nas redes sociais, Maryana preserva a identidade de cada afilhado, mas não esconde a importância dessas relações e o quanto faz bem a ela e eles. A música “Dia Especial”, que fala da mão estendida sem pedir nada em troca, do encontro de pessoas e o tamanho do amor que acalma e dá força, é a trilha que embala essas histórias.
A primeira delas foi com uma adolescente de 15 anos. “Com ela aprendi a ser firme nas palavras, orientar sobre os estudos e seguir o caminho do bem”. As duas passearam pelo shopping, se sentaram à beira do lago na praça, cozinharam juntas e conversaram bastante. Em março de 2018 chegou o segundo afilhado, um menino de oito anos. “Ele é mais do que especial. Amoroso, carinhoso, falante, persistente nos estudos e muito religioso. Foi ele quem me ensinou a ter fé”.
No mesmo ano, em outubro, foi chamada para conhecer mais um menino de oito anos. “Muito carente de atenção, esperto, sempre queria nos agradar de alguma forma, com um desenho, pinturas e abraços”. Em seguida, veio o irmão, de nove anos. “Este tinha o temperamento mais difícil, calado, com crises de choro. Tivemos que trabalhar muito a autoestima, mas depois de um tempo a gente não se largava mais”. Depois da adaptação à casa e aos passeios, chegou a irmã, de sete anos. “Uma menina falante, amorosa, esperta e que gostava de liderar os meninos”. Todos foram adotados neste ano e continuam em contato com a madrinha.
Atualmente, Maryana tenta conquistar a confiança de outra afilhada, uma garotinha de nove anos. “Um encanto de menina. Não para de falar um minuto. Já nos damos muito bem, graças a Deus”.
Para Maryana, a relação de afeto é o mais importante. “Como amor, atenção e cuidado são tão necessários na vida de toda criança e adolescente e como isso tudo pode mudar o destino de cada uma delas é o que mais me motiva. O modo como podemos mudar a vida deles e a nossa também me fará continuar no projeto para sempre”. A madrinha se emociona ao relatar essas experiências. “É incrível ver como eles são fortes, persistentes e corajosos e conseguem enfrentar tantas barreiras que foram colocadas em suas vidas e ainda nos devolver com tanto amor”.

Oportunidade para compartilhar afeto
A assistente social forense, Rosilene Aparecida da Silva Lima, explica que os padrinhos precisam entregar documentação e passam por capacitação e avaliação pela equipe do Serviço de Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes (SAICA). Todos os documentos resultantes desse processo inicial são encaminhados ao juiz da Vara da Infância e Juventude.
“Nós, do Serviço Social, consultamos o Cadastro Único Informatizado de Adoção para verificar se os pretendentes não estão cadastrados, pois não podem estar na fila de adoção. O cartório verifica se há algum processo criminal envolvendo seus nomes. Se não, ocorre o encaminhamento para manifestação do Ministério Público”. Somente depois dessas etapas os pretendentes estarão aptos a ser padrinhos e madrinhas. Quem tiver interesse em conhecer melhor o projeto pode buscar informações na Secretaria Municipal de Assistência Social e na Comarca de Lages.

Taina Borges – NCI/TJSC – Serra e Meio-Oeste

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